A psicanálise da criança

A psicanálise desde Freud traz conteúdos sobre a infância, vindo a se aprofundar posteriormente nos estudos de Anna Freud, Melanie Klein e Hermine von Hug-Hellmuth, que dedicaram sua prática ao tratamento infantil.

Os sintomas que são apresentados pelas crianças podem ter uma relação direta, inversa ou reacional com a história da família e tomam sentido para os pais pelas suas histórias.

A infância demorou bastante para ser estudada pois as crianças eram tratadas como “adultos em miniatura” até o século XXI.

Elas eram cuidadas apenas no básico e ensinadas até que conseguissem cumprir suas atividades sozinhas, para então poder trabalhar auxiliando os adultos.

Como eram tratadas de forma igual, não eram merecedoras de qualquer tratamento ou cuidado especial.

Isso facilitava a ocorrência de violência e exploração por parte dos adultos para com as crianças, e as mudanças se iniciaram na década de 1970, a partir da publicação de História Social da Infância e da Família pelo historiador Philippe Ariès.

A partir desse momento, historiadores europeus e americanos começaram a pensar na infância, modificando as concepções anteriormente determinadas socialmente.

Nessa época, os pais procuravam não se apegar aos seus filhos, considerando o perfil demográfico desse tempo no qual poucas crianças conseguem de fato chegar à fase adulta.

Sabendo da vulnerabilidade das crianças no meio adulto, desde o século XX se iniciaram novas definições para a infância a partir de medidas legais, e posteriormente foi realizada a Convenção dos Direitos da Criança em 1989.

E assim temos a infância como conhecemos hoje, onde crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, que merecem tratamento diferenciado e é obrigação da sociedade resguardá-los diante de suas fragilidades, perante a lei.

Freud teorizou a respeito da sexualidade infantil, afirmando que as crianças tinham desejos, afetos e conflitos, e essas ideias contrariavam o que se acreditava na época e tornou a teoria mal vista aos olhos de muitas pessoas.

Apesar de iniciar e descobrir muito partindo do infantil, Freud colocava as dificuldades encontradas na análise de crianças, diante do que acreditava ser o maior impedimento, que era o não desenvolvimento da linguagem.

Esse fato dificultava muito a principal técnica psicanalítica da associação livre.

Freud não tinha intenções de se aprofundar na análise de crianças, e não acreditava que seria possível, mas depois mudou de opinião, percebendo que a realidade psíquica da criança se assemelhava às do adulto em suas angústias, fantasias e desejos.

Freud foi o primeiro a descrever este mecanismo psicológico do brincar quando interpretou o brinquedo de uma criança de 18 meses. O garoto fazia aparecer e desaparecer um carretel, tentando, assim, dominar a sua ansiedade em relação ao aparecimento e desaparecimento de sua mãe, simbolizada pelo carretel e, ao mesmo tempo, jogá-la longe sem perigo de perdê-la, já que o carretel voltava quando ele o desejava (ABERASTURY, 2007, p. 15).

Como não estava nos planos de Freud se aprofundar no tratamento de crianças, sua filha Anna Freud, Melanie Klein e Hermine von Hug-Hellmuth fizeram isso.

Anna tinha uma teoria mais voltada para linhas educacionais, pois acreditava que o tratamento das crianças seria realizado por meio de viés pedagógico.

Já Hermine von Hug-Hellmuth, que também era professora primária assim como Anna Freud, observava as crianças brincando com jogos e desenhos e afirmava que com esse material as crianças elaboravam as situações mais difíceis e traumáticas.

Já Melanie Klein criou uma técnica de análise pela atividade lúdica com crianças. Ela dizia que brincar era uma atividade naturalmente infantil, mas também era uma expressão simbólica do inconsciente.

Diante de tudo isso, conclui-se que as brincadeiras, jogos e desenhos infantis são as principais formas de expressão das crianças e é através dessas formas que elas buscam a adaptação ao mundo real, já que com o brincar elas podem criar e recriar situações dolorosas e felizes.

Cabe a um terapeuta e analista de crianças ter um olhar sensível a essa expressão que a criança diz sem precisar falar.

O sintoma da criança e a família

A presença dos adultos na vida da criança é extremamente importante.

Além dos cuidados básicos, como alimentação e higiene, as demonstrações de afeto e suprir as necessidades emocionais são muito importantes.

Renée Spitz foi um dos pioneiros na observação das necessidades dos bebês, e discorreu sobre os efeitos das privações afetivas na primeira infância com bebês que foram abandonados ou que os pais faleceram.

Para Freud, a criança, antes de nascer, já existe no discurso e na fantasia dos pais e sua entrada, na ordem da cultura e da linguagem depende do lugar que lhe é designado a partir das expectativas e desejos parentais.

Freud também discorre sobre como os pais buscam nos filhos resgatar e tornar possível as coisas que eles não tiveram na infância e nas suas vidas.

A criança será capaz de realizar, na fantasia dos pais, os sonhos que eles jamais puderam realizar.

O menino se tornaria um herói no lugar do pai e a menina se casaria com um príncipe, como esperava sua mãe.

O desejo dos pais revela o quanto esperam dos filhos, colocando expectativas em suas vidas, que não necessariamente serão alcançadas.

Essas crianças, quando ficam diante de tais esperanças e obrigações por diversas vezes acabam se sentindo incompetentes, incapazes e podadas pelo desejo dos pais.

Muitas vezes não percebem que a chave desse mal-estar vem das expectativas do casal parental.

O sintoma infantil seria uma forma de auxiliar os pais a levar os filhos a uma clínica psicológica, para que eles sejam capazes de despender tempo e atenção à dinâmica conjugal.

Cabe ao terapeuta a missão de observar o todo, para além do relatado sobre o sintoma para se chegar a uma compreensão melhor do indivíduo, suas relações, e o ambiente no qual vive.

Se for necessário mudar o foco, deve começar na criança e depois para o restante da família.

A criança seria trazida como a representante da doença da família, mas pode não ser sobre ela que incidirá a proposta da intervenção terapêutica que o profissional poderá indicar.

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Psicanalista Licenciada em Ciências da Religião, pelo Centro Universitário Internacional Uninter.
Possui também formação psicoterapêutica em Tarô Iniciático, Cristaloterapia, Ervas e Meditação.
Iniciada como Xamã, em uma tribo Tupi Guarani no litoral de São Paulo, com dois anos de Jornada Iniciática na tribo. Seu nome Tupi Guarani é “Awa Dju” (Mulher Fiel).
Formada há mais de 20 anos em Psicanálise, com especialização nas teorias de C. G. Jung, Donald Winnicott e Jacques Lacan.
Em sua ampla experiência como psicanalista didata e terapeuta, vem atuando nos campos de atendimento individual, familiar, corporativo e social, além do exercício como docente.
Atualmente desenvolve Pesquisas e estudos em Criminologia, luto e Interpretação de Sonhos.

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