Freud chamou Jung de “o príncipe herdeiro da psicanálise”, mas logo dispensou-o do cargo pois em suas pesquisas Jung formulou uma teoria que divergiu muito da de Freud.
O ponto chave da separação entre os dois psiquiatras foi a formulação do conceito de inconsciente. Jung percebeu que o inconsciente não era apenas um reservatório de emoções sombrias e desejos primitivos e perversos, mas também era uma fonte de criatividade entre o homem primitivo e o contemporâneo. Por isso, dividiu o inconsciente em pessoal e coletivo.
Continuando a ideia de consciência, ele estipulou o ego como o centro.
Nada chega à consciência se não for pelo ego e assim, o ego é o organizador da consciência, composto de percepções conscientes, recordações, pensamentos e sentimentos. É o ego que fornece identidade, continuidade a personalidade e apesar de ser uma parte pequena na psique total é ele que desempenha a função básica de vigia da consciência.
Ao contrário do que a gente pensa, quando interagimos socialmente, não mostramos o ego nem vemos o ego de outra pessoa, mas sim a persona, ou seja, o personagem que ela cria para aquele momento.
O ego é um organizador das diversas personas.
A persona
Persona é o termo que Jung utilizou para designar os papéis sociais que desempenhamos para interagir com o mundo. Ela se desenvolve desde os primeiros anos de vida, quando a criança aprende quais valores são socialmente aceitos e quais valores são valorizados pelos pais.
Assim o indivíduo apresenta padrões de comportamento condizentes com aquilo que aprendeu como sendo a conduta adequada frente a cada um dos ambientes e situações nas quais precisa desempenhar funções.
As características ou comportamentos que são considerados indesejados, os aspectos instintivos e animalescos, são reprimidos no inconsciente pessoal, e formam o que Jung chamou de sombra, que exerce sua influência no campo da consciência.
Ela é perigosa, quando a sombra é negligenciada pelo indivíduo.
O termo complexo foi utilizado pela primeira vez por Jung, depois de ser amplamente utilizado por Freud, como no complexo de édipo, por exemplo. Mas de uma forma diferente, o complexo não é uma patologia, mas sim uma estrutura inerente ao sistema psíquico.
Os complexos pertencem ao campo do inconsciente pessoal, e apesar do seu núcleo ser herdado geneticamente, e pertencer ao inconsciente coletivo, os complexos seriam aglomerados de energia psíquica atraídos por um sentimento, pensamento, percepções, memórias que vem de uma ou mais experiências.
Cada complexo possui um centro, que seria denominado como se fosse um arquétipo, que estipula uma imagem simbólica coerente com a energia psíquica aglomerada.
Por exemplo: todos possuímos um complexo materno, que pode ser positivo ou negativo, depende da experiência de cada um.
A partir da interação do indivíduo com a sua mãe, uma pessoa pode sofrer um trauma e passar a ter dificuldades em lidar com essa representação da mãe, e acabar tendo um complexo materno negativo, que acaba concentrando energia psíquica de forma intensa neste complexo, mantendo o indivíduo inconscientemente fixado nessa relação.
Nas pesquisas sobre o simbolismo das alucinações e fantasias de seus pacientes psiquiátricos, Jung descobriu a existência de determinados padrões de comportamento característicos da espécie humana, e portanto, herdados por todas as pessoas em quaisquer culturas e regiões. Deu o nome de arquétipo a esta tendência inata que direcionam o desenvolvimento humano. É o equivalente psíquico ao DNA.
Arquétipos
Apesar de constituir o núcleo central dos complexos, os arquétipos pertencem ao inconsciente coletivo, que é a parte mais arcaica do inconsciente presente em todos os seres humanos. Cabe ressaltar que, apesar de todas as pessoas herdarem os arquétipos, a expressão de um ou de outro dependerá das experiências de vida do indivíduo.
Porém também temos os arquétipos que existem como estruturas psíquicas, cujo funcionamento dinâmico depende também das experiências de um indivíduo. É o caso do animus e anima. Animus é o arquétipo do masculino na mulher e a anima é o arquétipo do feminino no homem. Sua formação e ativação, portanto, também seu modo de funcionamento é ativado pela experiência que o indivíduo têm com o sexo oposto.
Dentro de todo sistema arquetípico, existe um arquétipo central, centro regulador de toda psique – consciente e inconsciente -, potencial inato ordenador e organizador da vida psíquica, que direciona o desenvolvimento da personalidade que é chamado de Self.
O Self é um fator interno de orientação, é o Self que envia símbolos à consciência para que possam ser interpretados e revelados. Este entendimento e integração permitem ampliar a consciência sobre si mesmo e cumprir a meta do desenvolvimento psicológico total.
Então entramos aqui num quesito importante a respeito do que se fala em muitos centros que tratam a espiritualidade: a morte do ego. Como vimos, o ego é apenas um instrumento, uma pequena parte da psique consciente, mas deveras importante. Muito mais influencia negativamente a sombra do que o ego. O caminho que tantos pregam chamando de “morte do ego”, é na verdade a ligação do ego com o Self, o que leva a um desenvolvimento consciente do Self, somente acessível através de um árduo processo de compreensão e aceitação dos nossos processos inconscientes. Assim, o ego não parece ser mais o centro da personalidade, mas se torna apenas uma das inúmeras estruturas psíquicas.
A este processo de desenvolvimento da personalidade rumo à consciência plena de todos os seus aspectos foi denominado por Jung como individuação.
A meta da individuação é atingir a experiência profunda de que todos os níveis da psique são um mesmo todo, pleno de potencialidades.
E desse modo o indivíduo pode se perceber dentro da sua verdadeira natureza, ou seja, indivisível, completo, total e repleto de possibilidades de realização.
Portanto, podemos concluir que o conceito de personalidade para Jung não pode ser reduzido ao termo persona (persona+lidade), pois a persona é apenas um dos elementos que constituem a personalidade total, que, em psicologia analítica, então, só pode ser considerada se o for em sua totalidade.
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